quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Como disse antes as poesias me desnudam...

Considero este o meu melhor poema e foi criado na primeira noite do Congresso Brasileiro de Poesia, realizado em Bento Gonçalves, no ano passado. Estava no Hotel Vinocap, sozinha - minha colega de quarto ainda não havia chegado! - e sem conseguir dormir a "poesia-retrato" debruçou-se inteira sobre mim...

PEQUENO ÓBITO

Hoje,
Comecei minha morte
neste quarto de hotel

Mastigando nós
recrio cadáveres
que gozavam felizes...
Degusto roupas entrelaçadas
e carinhos despenteados

Os beijos e risos
que habitaram o ventilador do teto
Parados
Anestesiam minha língua
e se prendendo à faringe
sutilmente me sufocam

Na cena não digerida
o sangue tinto corria pelo pano branco
que o matizava
como um artista louco
que aleatoriamente
expressa seus sentimentos
numa tela vazia

Tento respirar as tintas da parede
sem sucesso
Busco um abraço invisível
que me massageie o peito
mas só a fisionomia abjeta se reflete
Grito em silêncio a minha dor
e ofegante
varro os cacos de vidro
Paro, perplexa,
pois não existem lábios
Para a boca-a-boca

Meu corpo lívido ressurge
num palimpsesto
Deto-me!
Abro uma garrafa de tannat
Sorvo a taça
cheia de lágrimas
e aromas
E jazo horas eternas...

Respiro profundamente
Contenho meu pequeno óbito
E saio no frio
Sob um sol pálido
Após a chuva infernal

01 p/ 02/10/2006

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