quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Um conto!

Traição

— Você é uma vadia!
Alberto não acreditava no que acabara de falar para a sua esposa. Ele sabia que ultrapassara os limites, mas não podia retroceder. Bateu a porta com força e saiu, deixando na sala uma Lucila atordoada.
Enquanto Alberto se dirigia ao trabalho, reviveu esses traumáticos últimos dias que culminaram com este episódio. Há menos de dois meses se achava feliz com a esposa que tinha escolhido, pois mesmo após 7 anos de casado ela continuava linda, como no primeiro dia que a viu: cabelos lisos dourados e expressivos olhos grandes verdes, olhos de felina...
Ele lembrou que quando Lucila foi morar na sua vizinhança, ambos então com 15 anos, se apaixonou de imediato, no dia da mudança...embora tenha levado um ano para ter coragem de se declarar e ter sido aceito como seu namorado... e quatro anos depois como marido...
E a felicidade se tornou maior com a chegada da filha que ele tanto amava e que cada dia se tornava mais esperta. Quando ele a viu, após o nascimento, não teve dúvidas em relação ao nome, só poderia se chamar Isolda, em homenagem à heroína do romance shakesperiano, que era uma das suas paixões desde a adolescência.
Mas desde a época de namoro ele freqüentemente se perguntava o que Lucila via nele, já que sempre foi o patinho feio da escola; além disso ele não podia esquecer as palavras maternas que martelavam no seu ouvido “que ele era feio, mas era o mais inteligente” quando alguém observava sua aparência em comparação com os irmãos.
Sabia que não estava errado: — ela me trai, com certeza!
Ele notou assim que a filha começou a crescer e não apresentava nenhuma semelhança com ele. Nem o nariz grande, nem o queixo prognata, nem os olhos pequenos, nem a cor dos cabelos...nada...
Começou a observar os traços da filha; e também a esposa para descobrir com quem ela poderia estar tendo um caso, pensou no sócio, nos amigos e até no irmão mais novo, que sempre gostava de aparecer na sua casa para jantar.
Passou semanas nessa angústia, até que um dia observando o caseiro ajudando gentilmente sua esposa a plantar umas flores, viu como era um sujeito apessoado, com aqueles cabelos louros anelados
iguais aos da Isolda. Bingo! Tinha encontrado o sujeito. Não tinha dúvidas : Lucila estava tendo um caso com o Waldomiro.

Munido desta certeza Alberto chamou Lucila para o quarto e a acusou, esperando que ela contasse tudo e confirmasse suas suspeitas. Esperou até que ela reconhecesse a esperteza dele em descobrir tudo.
Mas ele não contava que ela caísse aos seus pés, dizendo que o amava, que nunca tinha olhado para outro homem e que ele estava desrespeitando-a ao caluniá-la com o caseiro.
—Ela era uma grande atriz! Pensou. A raiva aumentou:
—Eu a estou desrespeitando?
—Você não pode falar em respeito.
—Você é uma vadia!
Bem, voltamos então ao impasse inicial quando Lucila foi deixada atordoada na sala, sem entender nada.
Ela amava o marido desde quando o conheceu. Com aquele jeito tímido e atencioso ele a encantou no momento em que cansada da mudança foi pedir água ao novo vizinho.
E sentiu imediatamente que foi correspondida. Portanto quando ele a pediu em casamento ela não teve dúvidas que Alberto era o homem da sua vida.
É verdade que agora freqüentemente se sentia solitária e aí duvidava se era tão amada por ele assim. Mas sabia que é da natureza dos homens ficarem isolados, e por isso ela não estranhava quando ficava quase todas as noites sozinha, na televisão e depois por conseguinte na cama.
Mas daí a inventar uma estória que ela estava tendo um caso, ainda mais com o Waldomiro era um desrespeito sem lógica; ele a tinha humilhado e a magoado muito. Ela não o perdoaria e entre lágrimas decidiu que iria passar uns dias na casa da sua mãe. Não tinha feito nada de errado para ser uma mulher largada, mas também não iria deixar isso passar em branco,— ah! não ia não...
— E logo o Waldomiro, um empregado, um subordinado, que ela nunca tinha olhado direito. Ela não entendia aquela suspeita do marido.
Ela resolveu que iria pegar a filha imediatamente e ir para casa da sua mãe. Mas não ficou tão resoluta quando encontrou o Waldomiro brincando com sua filha.
Sentou na varanda e começou a observar aquele belo homem sempre tão gentil com ela e pronto para atender todos os caprichos da Isolda. Começou a observar aqueles braços fortes, aquelas pernas musculosas; e se perdeu em devaneios. Foi quando Waldomiro lhe voltou o olhar e sorriu, de uma maneira diferente, ela sabia...
Um ano depois desta cena, estamos nesta mesma varanda observando um Alberto emocionado segurando o bebê William nos braços, com alegria redobrada por não ter dúvidas que este sim era seu filho, com seus mesmos cabelos pretos.
E a mãe, Lucila, também olha para o filho com a maior felicidade, porque o filho é a memória viva dos maravilhosos momentos que viveu com o Waldomiro.

26/04/2007

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